XXVIII
Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coração.
As Mãos e os Frutos
Eugénio de Andrade
1948
Fotografia de © ioana petcu
Noite após noite
Colocaram-se nuvens no céu-da-boca.
Estudaram-se os segredos
Enquanto sentíamos a chuva nas nossas línguas.
Imaginei os reflexos dos pirilampos
Que viriam servir-te de ponto
Espalhando restos de luz
Sobre a galeria de vidas que encenámos
Conhecíamos a razão do pousio das palavras
Da angústia de sentir descer sobre elas o pano.
Os aplausos eram apenas o eco
De ver uma nova personagem surgir
Sobre o horizonte da minha garganta.
Por isso decorei todos os silêncios,
Essa ante estreia de uma outra estação,
O escuro do inverno,
Sabendo dos reflexos de chuva
Que teria ainda de conhecer.
Tentámos fugir,
Mas não era esse o ponto forte.
O ponto alto?
Foram os obstáculos,
As sementes de tempestades
Escondidas nas nuvens do céu das nossas bocas
Que fomos suportando.
Sentei-me na primeira fila
Para ter a absoluta certeza de que me verias
Ainda que fosse eu
A tua única espectadora.
Não aplaudi no fim.
Já sentia um lago de lágrimas
No meio dum publico,
No meio de mim.
Esperei que todas as luzes se apagassem,
E, então sim, chorei no escuro
Para que nenhuma porção de mim me visse.
Depois
Fugi daquele lugar,
Fugi,
Tropeçando nos soluços,
Chegando quase a cair
Naquela tão triste forma de amar.
De Paulo Mello a 10 de Junho de 2009 às 11:57
Também me deito ao lado da minha solidão... sempre! Belos versos do Engénio de Andrade.
Também fugi de determinado lugar, Cris, procurando sofrer menos, também tropeçando nos soluços. Triste forma esta minha de amar...
Que belo o post anterior, Amiga! Que rica homenagem numa preciosidade de prosa e verso que enriquecem alma e coração! Como gosto da tua forma de escrever, Cris!
Meu abraço e cumprimentos, com apreço,
PMello
De
Cris a 11 de Junho de 2009 às 15:34
Deixo-te um poema de Eugénio, Paulo, à guisa de resposta ao que não dizes(não digo), por não ser de todo necessário, meu bom Amigo. Como ele tinha no ponta dos dedos as palavras certas!
"Há Dias
Há dia em que julgamos
que todo o lixo do mundo nos cai
em cima. Depois
ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam.
Não lhes sei o nome. Uma
ou outra parece-se comigo.
Quero eu dizer:
com o que fui
quando cheguei a ser
luminosa presença da graça,
ou da alegria.
Um sorriso abre-se então
num verão antigo.
E dura, dura ainda."
Belíssimo, como todos os poemas dele, Paulo.
Vai brilhar o sol. Poderá demorar, acharás, mas, vai brilhar, e, tornar-te-ás, de novo, mar chão.
Um abraço com amizade.
De Fatyly a 9 de Junho de 2009 às 21:07
Esperei que todas as luzes se apagassem,
E, então sim, chorei no escuro
Para que nenhuma porção de mim me visse
...................
palavras para quê? porque me identifiquei nas tuas palavras não consigo dizer mais nada, excepto...que adorei este momento de leitura e reflexão!
Força
Beijocas de quem gosta muito de ti, ouviste fiota?
De
Cris a 11 de Junho de 2009 às 15:36
Abraço-te, Mãezona, com todo o carinho, todo!
De
Carla a 9 de Junho de 2009 às 14:41
ai amiga...senti cravejarem-se em mim as tuas palavras.
E...
dizer-te também do meu livro...In-finitos sentires que vão ser desenhados em papel. O lançamento é no próximo dia 27 de Junho, às 16 horas na Biblioteca de Valongo (Porto)...aparece se puderes
beijo
De
Cris a 11 de Junho de 2009 às 15:38
Respondi-te, lá, no teu blog, Carla. Vai ser um momento maravilhoso, por certo. Gostaria muito de estar presente. Afinal, estamos perto, Amiga.
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