Fotografia de © Yuka Shevchenko
Fotografia de © ioana petcu
Fotografia de © ioana petcu
Dez anos.
Não calculas o que aconteceu desde então, desde que disseste, depois de te manteres em silêncio todo aquele tempo, que “estavas pronto, que podias ir”.
Será que nos ouves, aí em cima? Todos os nossos silêncios, todas as nossas saudades?
Será que ouves todos abraços, todos os beijos que, tanto gostaríamos que fossem iguais aos teus, quando ao abraçares a mãe, nos abraçavas?
Onde quer que estejas, não deixes de nos olhar e desculpa continuarmos a pedir-te tanto, tanto!
Lembras-te quando, a brincar, nos dizias que iríamos sentir a tua falta?
Nós ríamos e dizíamos que não!
Olhamos as mãos, afagando ternamente aquela tua pergunta.
Choramos.
Imaginávamos lá como a saudade se tornaria tão incomensurável.
Imaginávamos lá a felicidade que era chegar lá a casa, agora, olhar o sofá, e, não ver assim, tão cheio de um vazio tamanho!
Nunca se está pronto, acredita.
Dez anos., Pai
Acredita que ainda nenhum de nós está pronto para te pensar e não conseguir dizer mais nada a não ser o quanto desejávamos que estivesses aqui.
Fotografia de © AUGEN-KLICK
Ver-te! Ainda que por um segundo
Imaginar que estás na sala...
Rindo, gargalhada cheia, sonora,
Intensa, transbordando alegre
A tua tão terna forma de amar!
Tu! Tão grande, tão gaiato, tão Pai!
Oh! Como dói saber o que é saudade!
Já sequei as lágrimas
Os meus olhos tornaram-se baços,
Secaram, fizeram-se desertos
E nem sombra dum oásis.
Serenamente, sem um adeus ou um até já
Olhos postos na tua mulher, companheira e mãe
A janela pediste para abrir,
Rindo, como só tu, boca cheia de alegria,
Esperaste que nos distraíssemos e...
Sorrateiramente... foste, Pai, embora.
Dói, saber o que é saudade!
E...
Mesmo sabendo que nos estás olhando
Imaginando-nos na sala, tentando
Rir, lembrando a tua gargalhada cheia,
A noite vem devagar, trazendo com ela um
NUNCA MAIS!
Dói, Pai, saber o que é saudade,
Aquela certeza de que, na sala, o sofá está vazio!
Fotografia de © Ana Rita Pinto
Estende-se a noite pelo chão
aqui,
neste bocadinho.
Quando nele lhe pousares os olhos
vou ver o mais belo luar
pousado num imenso azul
que,
só para mim,
não é de mar...