Fotografia de ©Yuka Shevchenko
"Amor, cuántos caminos hasta llegar a un beso,
qué soledad errante hasta tu compañía!"
Pablo Neruda
Os olhos choraram
Enchendo o rio
Mas as mãos,
Moldaram-se num tálamo
De alguma água
Daquele que como um trilho,
Continuava correndo,
Os olhos já não choram,
Mas as mãos?
Ah, como os olham agora,
Como que guardando
O esboço de um sorriso,
Espécie de peixe
Em vias de extinção
Que saltou
Para o pedaço de água,
Afluente do rio,
Que as mãos retiveram
Deixando que o caudal
Continuasse a sua incessante busca.
Os olhos já secaram,
Mas as mãos?
Que lugar!
Guardiãs de bem quereres!
Os olhos estão já calmos,
Mas as mãos,
São viveiros!
E o rio?
Chegou ao destino,
E ao renascer, ali,
Onde as mãos o esperavam
Vai banhar-se,
Sentir o frescor salgado do mar,
Todo a brisa marinha,
Abrir-se-ão em concha,
O mais gracioso areal!
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Vem a nostalgia que pousa, subtil, no colo. Olhar, emocionada, o percurso dum rio, daquelas duas margens que deixaram de ser paralelas. Não havia impossíveis para eles, por tão singulares serem.
Guardar na caixinha de biscoitos, a mais bonita história.
Sentir um odor doce, quando a abria.
Nela guardo os momentos deles, belíssimos, porque, sem mesmo saberem, sequer imaginarem, já estava a ser, em cada beijo por eles partilhado, concebida uma outra, [julgávamos], igual à deles.
………………
Fecha-se a caixa, aquela história única.
Talvez que se abra, um dia, quando não doer o plural em que nos tornámos, ou, ouso dizer, que sempre fomos.
Fotografia de © ioana petcu
Se nos tivéssemos navegado?
Se tivéssemos sido, em nós, viajantes?
Se houvéssemos dito que era tempo de outros oceanos,
de terras nunca antes visitadas?
Se tivéssemos sido a nossa escolha?
Se essa escolha tivesse o nosso nome?
Tanta pergunta!
Não queria devassar a letargia,
esse espaço que se dividiu,
que mudou,
que agora é:
o teu,
o meu.
Pensar que por momentos, estivemos tão perto,
Que semeámos desejos ao acaso
que se matizariam naturalmente...
Porque nos houvéramos prometido que seria assim.
Desnecessário o pousio.
A nada chamávamos “meu”.
A tudo chamávamos “nosso”,
Queríamos, como queríamos!
Fomos quimeras,
absorvemo-nos em gestos lentos,
demorados.
Acompanhámo-nos,
e,
ainda que só na [nossa] imaginação,
fomos:
Eu,
[e]
Tu,
Singulares!