Fotografia de © Antonio Amen
Ir, pelo prazer de sentir, fragmentos de recordações de mil viagens feitas sem tempo dilatadas apenas por imaginações dos que são hábeis em figurar o trilho dum rio que corre nunca para jusante.
Repousar à sombra de árvores frondosas que não existem senão nas searas alentejanas...
Que sentimento é este que os une acalenta e protege, numa serenidade dourada, sem fadigas?
Não sabem, mas, sentem-se de todo bem, entre o divino e o profano, sentados numa das margens do rio que continua a correr, teimoso, para montante, já que para jusante correm todos os outros rios e aquele teima em correr para a fonte, em busca do tal sentimento que vai depois pousar no colo dos dois seres que numa das margens, olham o rio que lhes vai trazer fragmentos duma visão deslumbrante dum amor que só eles sentem.
É esse o tal sentimento, a oferenda dum rio em tudo desigual de todos os outros rios, que leva no seu leito o futuro, não passado, todo ele pejado de pó de mil estrelas, de mil viagens por ele feitas.
E o par, vê, num repouso apaixonado, o rio que lhe vai dar algo que pensava não fazer falta: a simplicidade mágica de saber ficar, unido.
...e vão deleitar-se nas águas cálidas do único rio que corre para montante, transformando um simples olhar numa visão fascinante, que já não é futuro e do qual não vai haver memória, mas, e, tão só, sentimento, todo ele pejado de Pó de Estrelas.
Fevereiro 2002